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Osório Adriano

Depoimento de
Osório Adriano

Nos corredores da sede do grupo Brasal, no Setor de Indústrias e Abastecimento, o lema “A gente vai lá e faz” está impresso nas paredes e presente nos mínimos detalhes. “Ir lá e fazer” não poderia ser mais apropriado para uma figura como Osório Adriano Filho, mineiro de Uberaba, fundador da Brasal. Criado em 1963, o grupo se tornou referência em empreendedorismo no Distrito Federal, antes mesmo desse termo ser conhecido e usual.

Pioneiro reconhecido pelo olhar atento para diferentes oportunidades de negócio, Osório Adriano Filho soube como aproveitar as chances que a vida lhe deu. Antes de sonhar em se mudar para Brasília, saiu de Uberaba, cidade onde nasceu em 10 de julho de 1929, para estudar Engenharia no Rio de Janeiro. Motivado por Fabiano Cunha Campos, seu amigo de fé que futuramente viria a se tornar seu sócio, Osório concluiu a graduação em Engenharia Civil em Miami, onde conheceu um grupo de norte-americanos que mudou seu caminho. Para os membros da Raymond Concrete Pile, Osório era o que lhes faltava: um brasileiro que falava inglês e tinha se formado nos Estados Unidos. Esse acúmulo de qualidades rendeu o convite inesperado para ajudar na construção de Brasília. A firma seria responsável por duas empreitadas. Inicialmente, faria a estrutura dos 11 ministérios que iriam compor a Esplanada dos Ministérios. O passo seguinte seria a construção da Barragem do Paranoá.

Mas não foi tão fácil como parece convencer o engenheiro recém-formado a se aventurar pelos rincões do Brasil. Aproveitar as belezas cariocas, a efervescente cidade de São Paulo ou as chances de emprego que Miami lhe trouxera eram propostas tentadoras demais para aquele jovem mineiro. O convencimento veio com um estímulo financeiro e o primeiro passo de Osório em terras goianas, em meados de outubro de 1957, foi montar o Acampamento da Planalto, onde os novos funcionários iriam se alojar para iniciar a construção dos ministérios.

Alguns anos depois, terminado o trabalho com os norte-americanos, veio uma nova dúvida: acompanhá-los ou não no novo projeto da empresa? “Eles me convidaram para uma nova empreitada, dessa vez no Egito. Mas eu já me sentia forte o bastante para tocar a minha própria empresa”, recorda-se Osório. A esta altura, o engenheiro já havia convidado Fabiano Cunha Campos para se juntar a ele na construção de Brasília e o convidou para ser seu sócio em uma construtora.

O desejo dos dois era o de dar continuidade aos trabalhos da firma americana e finalizar as obras da Esplanada, concretar os prédios, fazer as garagens e tudo mais que fosse necessário para transformar as avenidas S1 e N1 em dois símbolos da paisagem brasiliense. Em 90 dias de empresa, a dupla já comandava 1.500 operários. “Pegamos ainda quase um ano de construção. Trabalhávamos até meia noite todos os dias. Era uma loucura. Tudo pensando na inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960. Em 1959, o tempo era exíguo. Aqui só existia a esperança de construir o grande sonho brasileiro que era o de ter uma capital no interior. Nós estávamos acreditando nesse sonho”.

O casamento com Sílvia Rita Naves em 28 de abril de 1962 consolidou o desejo de ficar de vez na capital e de formar uma família. Osório casou-se em Uberaba e trouxe a esposa para Brasília, onde viu a casa localizada na 706 Sul ganhar novos integrantes. Vieram os filhos Osório Neto, Fernando e Maria Teresa que, futuramente, lhes trouxeram nove netos, os xodós do avô atento e cuidadoso. “Por amor à Brasília acabei me tornando deputado federal. Foram quase 20 anos defendendo a cidade. Para mim é um orgulho muito grande ter vindo para Brasília porque aqui eu constituí uma vida, uma família, ajudei meu país. Pouca gente tem essa oportunidade de viver o que nós pioneiros vivemos. Isso que é o nosso orgulho”, emociona-se.

Visionário, Osório sempre acreditou no futuro de Brasília, até mesmo em cenários não tão otimistas, como quando instalou a Brasal no Setor de Indústrias e Abastecimento. Em 1963 a região era formada por um enorme matagal e muitos funcionários temiam que o local não se desenvolvesse. Mas Osório permanecia firme na sua fé de que, aos poucos, outras empresas se instalariam por ali também. Dito e feito. “Quem admitiria que em um tempo tão curto surgiria aqui no interior do país uma cidade que trouxe o progresso não só para Brasília, mas para a toda a região? A redenção do país foi Brasília. Não sei se essa união que existe no Brasil persistiria. Eu sou fã do Juscelino, mas quem o ajudou foram os pioneiros. Se nós não tivéssemos vindo para cá com boa vontade e acreditando naquilo que ele pregava, seria? A cidade cresceu e muitos cresceram conosco”, comemora o empresário.

Encarar as dificuldades como mais uma oportunidade de ampliar os horizontes fez de Osório Adriano um camaleão capaz de se adaptar à qualquer realidade. Quando a barra pesou, durante o governo de Jango Goulart, a construção civil não vivia o seu melhor momento. Então, Osório buscou uma saída. Ao observar as pessoas que chegavam à Brasília do Rio e de São Paulo em busca de táxi no aeroporto pensou, então, que seria uma boa ideia abrir uma locadora de veículos. Com escritório instalado no Núcleo Bandeirante e ponto de locação no aeroporto, o plano saiu do papel e deu tão certo que ele mal dava conta da demanda. A aproximação com a Volkswagen levou ao passo seguinte: vender carros. Osório se considera alguém que soube abraçar as oportunidades que a vida lhe trouxe. “Hoje temos cerca de oito representações de automóveis. No caminho, apareceu a oportunidade de abrir uma fábrica da Coca-Cola e eu topei o trabalho. Muitos foram embora de Brasília, mas aqueles que aqui permaneceram e trabalharam com afinco tiveram sucesso”, celebra.

Durante nove décadas de vida, Osório Adriano Filho viu Brasília crescer, se expandir e se tornar a terceira cidade do país. Ainda hoje frequentador assíduo da sede da Brasal, o empresário fez do escritório uma extensão da sua casa, com diplomas nas paredes e fotos dos filhos e netos por todos os cantos da sala. À vontade naquele lugar que lhe deu tantos frutos, o empresário vai diariamente à empresa observar o filho, Osório Neto, em ação. Dono de uma vitalidade invejável, Osório pratica exercícios regularmente com a ajuda de uma fisioterapeuta e ocupa o seu tempo livre com a esposa, filho e netos, ora nos almoços de domingo em família, ora nos momentos de descanso na fazenda ou no apartamento que mantém em Miami.

O olhar atento e observador segue forte e sagaz. Questionado sobre qual seria o melhor conselho para quem busca empreender em Brasília nos dias atuais, é direto: “Uma preocupação minha sempre foi não fazer dívidas. E eu digo isso a vocês: vá devagar, não faça dívidas, não queira crescer mais do que suas possibilidades. O tempo nos ajuda. Você começa pequeno, vai indo, todo ano um pouco. Eu tenho 62 anos de Brasília, que estou aqui, lutando, trabalhando. Eu hoje diria que você arranje um bom emprego até que as coisas se abram para você poder escolher qual é o melhor caminho. Mas fique sempre alerta porque as oportunidades aparecem. Apareceu para mim, aparece para todos. Você não pode é desistir. O princípio de tudo é o trabalho. Eu tenho muita fé no nosso país”, aconselha o esperançoso pioneiro.

Osório Adriano