fbpx

César Barney

Depoimento de
César Barney

O colombiano César Barney tinha 24 anos quando desembarcou no Brasil, fascinado pela ideia de que estavam construindo uma cidade  no “meio da selva”. Era Brasília, que ainda engatinhava em 1958, ano em que o jovem estudante de Arquitetura deixava os Estados Unidos para se aventurar em terras brasileiras. Nascido em 1934 em Cáli, Barney conheceu Brasília quando ela nem era uma cidade de fato. A convite da Novacap, se juntou a um grupo de futuros arquitetos para passar um dia na nova capital. Entre tratores, buracos e um mar de poeira, o estudante se apaixonou por aquele esboço de futuro. Deixou o grupo e ficou só com a roupa do corpo na Cidade Livre. O estudante só voltou para o Rio de Janeiro cinco dias depois para reorganizar a vida, casar, e voltar de vez para Brasília.

Enquanto terminava a graduação, no Rio de Janeiro, o colombiano teve o privilégio de estagiar com o paisagista Burle Marx. Ao desembarcar na nova capital, sem emprego e nenhuma perspectiva, foi direto à barraca erguida para abrigar o Departamento de Urbanismo e Arquitetura, escritório do arquiteto Oscar Niemeyer, em busca de um trabalho. No espaço que hoje é ocupado pelo Ministério da Justiça, na Esplanada dos Ministérios, Barney foi recebido por Nauro Esteves, braço direito de Niemeyer, que lhe propôs que o jovem trabalhasse de graça por dois meses para ser avaliado. A experiência foi exitosa e Barney foi inserido no time de arquitetos do escritório que ganhou fama internacional por traçar e erguer uma cidade em cinco anos, seguindo o plano de metas de Juscelino Kubitschek.

Entre mais de 400 projetos, Barney conta que já fez de tudo, menos aeroporto e hospital. Em Brasília, no início, as demandas eram todas “para ontem”, correndo contra o relógio durante os oito anos em que fez parte da equipe de Niemeyer. Nesse período, as pranchetas vez ou outra eram escovadas para retirar a poeira que cobria os desenhos do arquiteto, que se orgulha de ter projetado postos de saúde e as primeiras 14 escolas construídas no Distrito Federal. É dele ainda a Torre de TV, obra que deu um trabalho fora do comum para o colombiano que precisou fazer papel de engenheiro e verificar de perto se todos os parafusos estavam no lugar. Jovem e destemido, Barney subia até o alto em escadas marinheiro para checar cada detalhe da emblemática obra. Foi o arquiteto quem traçou a primeira casa do Lago Sul, a Embaixada da Colômbia e o projeto urbanístico de Valparaíso, bem como o chamado conjunto São Miguel, que deu às superquadras 107, 108, 307 e 308 da Asa Norte um novo padrão de urbanismo. Atento às necessidades específicas do brasiliense acostumado a viver em clima seco, cravou como sua principal marca a presença certeira de um espelho d’água nos prédios desenvolvidos por ele. Esculturas, vitrais e painéis também fazem parte da assinatura do sofisticado arquiteto.

Do início da consolidação de Brasília, Barney guarda boas lembranças dos encontros corriqueiros com os colegas pioneiros. Certo dia, quando seu carro enguiçou, buscou um mecânico às pressas no Núcleo Bandeirante e quem o ajudou foi Jorge Cauhy, comerciante que se tornaria deputado distrital para quem Barney anos depois retribuiu a gentileza projetando de graça o Lar dos Velhinhos Maria Madalena. Nomeado cônsul honorário antes da inauguração oficial da Embaixada da Colômbia, Barney esteve à frente da função por 36 anos, onde fez assessoria para a construção das embaixadas da Alemanha e da Bélgica e reformou as embaixadas do Peru e do Egito. Esse bom trânsito deu a ele uma amigável relação com os representantes de outros países e contatos com clientes que seguem firmes na cartela do criativo arquiteto, que planeja completar 100 anos na ativa. “Parar de trabalhar? Não, de jeito nenhum. Eu deito e fico fazendo estatística, pensando em projetos, em quantos países eu conheci, quantas cidades eu conheci. É bom, então mantenho a cabeça funcionando”, diverte-se Barney ao explicar seus macetes para manter a mente viva e enérgica.

Casado com Elvira Barney, o colombiano encontrou na esposa uma companheira de vida e pioneirismo. Natural de Uberaba, a mineira tornou-se uma importante personagem brasiliense ao reunir no livro “Mulheres Pioneiras de Brasília” relatos de 90 mulheres que chegaram na capital entre os anos de 1955 e 1962. Nas 276 páginas do livro, Elvira mostra os desafios enfrentados por essas mulheres que se instalaram em Brasília à procura de um ideal de vida e muitas vezes ficaram invisibilizadas na história da cidade. Lado a lado, Elvira e Barney trilharam um caminho de pioneirismo traçado por muito amor, companheirismo e cumplicidade, unidos por um sonho que um dia fora de Kubitschek, mas que para este casal tornou-se a realização de uma bela história de vida.

César Barney