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Elson Cascão

Depoimento de
Elson Cascão

No auge da juventude, Elson Cascão caminhava pela Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, quando se deparou com uma maquete de Brasília na sobreloja do Edifício Central. Foi a primeira vez que o jovem nascido em Araguari, Minas Gerais, em 14 de março de 1932, teve noção de como seria a tão falada nova capital prometida por Juscelino Kubitschek. Ver como seria o Senado Federal, a Câmara dos Deputados e a Esplanada dos Ministérios fez brilhar os olhos do mineiro de espírito aventureiro, que deixou Goiânia – cidade para onde a sua família se mudou quando ele tinha seis anos – para servir na Força Aérea Brasileira em Porto Alegre e no Rio de Janeiro.

Em maio de 1958, Cascão desembarcou em Brasília obstinado a começar um negócio em terras tão promissoras. Com a ajuda do pai, comprou um posto de combustível na 2ª Avenida, no Núcleo Bandeirante, um negócio feito inicialmente ao lado da irmã Maria Emília e que nos anos seguintes ganhou novos sócios, formando o alicerce da Cascol, uma das empresas mais bem-sucedidas da capital. “Foi um negócio que prosperou, assim como Brasília. As coisas aconteceram e viemos fazendo essa trilha nas sendas da vida. Estamos há 60 anos em Brasília. Fomos pioneiros nessa área, construímos uma empresa grande e forte”, conta o empresário que se orgulha dos números que alcançou no decorrer dos anos.

A rede fundada por Cascão já reuniu 92 postos de gasolina e chegou a ter uma frota de 35 caminhões próprios para transporte de combustível, tornando-se uma das maiores empresas do Brasil em vendas de combustível ao consumidor. Para chegar ao topo foi preciso ter jogo de cintura. No início, a demanda por gasolina era tão grande que a bomba secava quase que diariamente. “Tínhamos que esperar chegar de Goiânia, porque havia pouco equipamento, uma bomba de óleo diesel e outra de gasolina, então secava. Eram três, quatro horas de viagem de lá para cá, porque passávamos por estrada de terra”, relembra Cascão, sobre as dificuldades da época.

À frente de uma função que há 60 anos era extremamente nova em sua vida, Cascão precisou se reinventar, sair do papel de funcionário público da Força Aérea Brasileira para ser um administrador. Aprendeu a gerenciar um posto de gasolina colocando a mão na massa, assim como muitos pioneiros que escolheram Brasília para chamar de lar. “Nós fornecíamos 80% do combustível para as companhias que fizeram os primeiros prédios. Eu carregava, dirigia, enchia o tambor. A demanda era grande”, emociona-se o mineiro que se considera um operário de Brasília.

Durante anos trabalhando arduamente para fortalecer o seu negócio, imerso no crescimento acelerado de Brasília, Cascão não teve muito tempo para admirar as belezas da nova capital. “A gente se acostumou àquele ritmo e às coisas que apareciam. Hoje aprecio muito mais a cidade, o Palácio da Alvorada com seus  pilares, as colunas projetadas por Niemeyer. Eu gosto de contemplar e ler sobre a cidade. Não deixaria Brasília por nada, só em uma circunstância: para ir a algum lugar e voltar para cá”, diverte-se o empresário que deixou o filho Elson Cascão II à frente dos postos de combustível para realizar outra paixão: dedicar-se à criação de alta genética de gado e ser um respeitado pecuarista, responsável por uma fazenda localizada às margens do rio São Bartolomeu.

Engajado em tudo que se propõe a fazer, Elson Cascão é uma inspiração para os novos empreendedores e elenca as características essenciais para quem deseja começar um negócio: “Primeiro, recurso. Se não tiver recurso, vai pela criatividade. Ele tem que ter inteligência de criar um negócio”, observa.

Fã de Juscelino, Cascão tem em sua biblioteca particular inúmeras publicações sobre o ex-presidente e recorda-se com emoção da primeira vez que o viu pessoalmente. O empresário estava voltando de uma entrega que fez no Acampamento Pacheco Fernandes e passou na 108 Sul, quando avistou várias pessoas reunidas embaixo de um andaime. Lá estava o violonista Dilermando Reis tocando para Juscelino, Israel Pinheiro e para os operários. “Ele foi um sonhador, um cara que tinha um sonho maior do que ele. Ele era um predestinado”, elogia o pioneiro de 87 anos.

Ao relembrar da maquete que viu na sobreloja do Edifício Central há seis décadas, Cascão reflete sobre as qualidades que tornam a capital um lugar mágico. “Brasília é única no mundo. Quando acompanho os noticiários e vejo aquelas imagens feitas de helicóptero, das vias, penso: ‘mas não é possível, isso aí é nosso, nós é que fizemos’. Foram arquitetos e urbanistas brasileiros que projetaram isso e nós, como operários, é que fizemos”, filosofa o pioneiro que segue atento às mudanças que ocorrem em Brasília, como um guardião. Alguém que, assim como Juscelino, estava predestinado a amar e ajudar a erguer a nova capital federal e redescobrir o Brasil.

Elson Cascão